Renato Russo (1960-1996) foi um cantor e compositor brasileiro de Pop Rock, líder da banda Legião Urbana.
Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro. Era filho de funcionário público. Viveu dois anos nos EUA por conta de uma transferência profissional de seu pai. As influências que adquiriu naquele lugar foram determinantes em sua futura carreira de músico.
No Brasil, Renato Russo, já adolescente, criou a banda Aborto Elétrico, que continha fortes traços da música punk. Depois, juntou-se a Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná e Paulo Guimarães e formou a banda Legião Urbana. Na nova banda, Renato Russo já tinha adquirido influências importantes, como o cantor Morrissey da banda The Smiths, e Robert Smith, da banda The Cure. No ano de 1983, Dado Villa-Lobos assumiria a guitarra da banda.
A banda Legião Urbana participou da efervescência do rock brasileiro dos anos 80, e é considerada exitosa em número de fãs e em repercussão musical. Entre as músicas mais tocadas nas rádios e na televisão, a Legião Urbana sempre estava entre as 5 mais tocadas. Os álbuns mais importantes são “Legião Urbana 2” (1986) e o Quatro Estações"(1989).
Renato Russo partiu para a carreira solo em 1993, alternando entre trabalhos de qualidade razoável e de pouca repercussão. Alguns álbuns importantes: "The Stonewall Celebration Concert" (1993),
"Equilíbrio Distante" (1995) e "O Último Solo" (1997).
Renato Russo era assumidamente bissexual, o que fez questão de tornar público em sua canção "Meninos e Meninas", do álbum "Quatro Estações".
Renato Russo morreu com apenas 36 anos em decorrência da AIDS, doença que descobriu em 1989.
Renato Russo não foi apenas mais um letrista. Existem em sua obra virtudes que passam despercebidas pelo público médio habituado somente às canções mais conhecidas, fato este que realça a banalização que Renato e sua banda sofreram nos últimos anos.
Desde sua morte em 1996, houve toda uma mitificação envolvendo o nome "Renato Russo". A partir de então todos ouviam suas músicas, aprendiam a tocar (mal e porcamente) as canções e estava tudo bem. Acontece que todo excesso tem suas consequencias, e as da super exposição da banda se mostraram bastante negativas. A excessiva execução das músicas mais famosas tornou a imagem da banda maçante. Hoje, pessoas tem vergonha de admitir que gostavam de Legião, que se identificavam com as letras e a obra da banda foi relegada a conteúdo de aprendizado de iniciantes de guitarra.
O fato é que a justiça deve ser feita. Renato Russo foi o maior letrista de sua geração (Os fãs do Cazuza e do Arnaldo Antunes que me perdoem). Nas suas letras há ecos de simbolismo, ultra-romantismo, morbidez gótica e até surrealismo, tudo misturado de forma bem equilibrada e (o que o destacava) com um vocabulário relativamente rico. Há em sua linguagem poética um lirismo e intensidade tão abstratos quanto reais, já que 95% do que ele escreveu foi vivenciado, não sendo mera invenção de seu gênio.
Mas o talento de Renato não se resumia apenas às letras. Algumas das mais belas melodias do Rock Nacional foram criações suas. Ele, que era tecnicamente limitado em relação à guitarra (importante frisar: tecnicamente, e não musicalmente limitado) se baseava em poucos acordes para criar contornos e saltos melódico-harmônicos bastante sofisticados. Uma audição atenta de canções como "Vento no Litoral", "Angra dos Reis" e "Os Barcos" pode explicar melhor a sua habilidade incomum de unir letra e música de uma forma única. Sua grande extensão vocal permitia a execução de linhas incomuns numa banda nacional destacando-o entre os vocalistas de sua geração. Numa época de total falta de identidade no Rock Nacional, surgia um ícone, dono de um belo timbre de voz, ótimo compositor e autor de versos como "É a verdade o que assombra / O descaso que condena / E a estupidez o que destrói". Que outra banda nesse país possuiu um frontman com tantas virtudes?
É muito importante ressaltar o que temos de bom no Brasil. Mas não devemos deixar a super-exposiçao desgastar a imagem dos (poucos) bons nomes que temos aqui. Hoje, para muitos Legião Urbana e Renato Russo não são sinônimos de qualidade em virtude da popularização que alcançaram. O radicalismo é uma besteira: alguém teria a coragem de dizer que "Stairway to Heaven" ou "Hotel California" sejam músicas ruins? Ou que "Sgt Peppers" dos Beatles e "The Dark Side of the Moon" do Pink Floyd sejam trabalhos de qualidade duvidosa por terem vendido mais que água no deserto? Pois é, querendo ou não isso também acontece no Brasil. O rock nacional dos anos 80 tem o seu valor e a obra de Renato Russo não pode ser sacrificada em nome do reacionarismo irracional dos radicais.
Vamos nos dar a oportunidade agora que estamos maduros de reavaliar nossa percepção artística. Isso faz parte de um ciclo onde revisamos nosso passado e tiramos dele proveito pro futuro. Há muito o que resgatar nas músicas e letras de Renato, versos que valem por uma vida que cessou precocemente. Esse legado é eterno.
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